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Salmo Vermelho: Cinema à contra pelo

outubro 29, 2010 Deixe um comentário

1898. Em uma pequena Comuna da Hungria trabalhadores entram em greve. A carta de Friedrich Engels lhes sussurra palavras de apoio e esperança. A luta de classes se expressa nos corpos, nas roupas, nas danças, nos instrumentos e nas músicas do proletariado e da burguesia.

Planos seqüência longuíssimos mostram o balé do conflito. O que vemos não é a estetização da política, mas a politização da estética. As formas do filme coincidem com o igualmente revolucionário conteúdo. As preces entoadas impulsionam as forças messiânicas/revolucionárias da luta contra a opressão.

O filme “Salmo Vermelho” resgata algo que havíamos quase que esquecido em épocas de tempos fugazes: A potência da história à contra pelo. Contra pelo em sua concepção, em sua forma e em seu conteúdo.

A história da luta dos trabalhadores já não é mais atrativa ao público do cinema, em verdade a história da luta de classes já não faz mais sentido para nós, sujeitos mergulhados na fetichização mercadológica. Não queremos saber das lutas, dos conflitos, mas simplesmente das compras e do status social.

Trazer à tona este filme, escavado arqueologicamente nos escombros do espetáculo, é rememorar um passado de lutas que têm inicio desde o nascimento da Modernidade – em 1492 com a invasão européia no que se chama América hoje – se estendendo até a busca da comunidade experimental utópica dos sem comunidade nos anos 1960 e 1970. Porem, esse filme não é apenas rememoração das lutas anteriores, mas também a tentativa de ressuscitar do passado aqueles que estão prostrados no chão impedindo o saque de seus bens culturais.

Hoje vemos uma produção cinematográfica que, constantemente, se aproveita da miséria daqueles que estão excluídos da maquina de moer carne capitalista. Drogas, favelas, ação policial, políticos corruptos e muito mais invadem a tela do cinema brasileiro. A história dos vencidos deixa de ter um sentido revolucionário como antes se tinha nas lentes de Nelson Pereira dos Santos em “Rio 40º” e passa a ser a vedete do mercado com “Tropa de Elite 2” com um público de 6,2 milhões de espectadores, deleitando assim o gosto mórbido da massa acrítica cinéfila.

Enquanto isso filmes como “Salmo Vermelho”, e até mesmo alguns do Cinema Novo e Cinema Marginal, são tragados pelo buraco negro do esquecimento. Portanto, o trabalho de citar esses filmes não é somente a busca da rememoração de estéticas e conteúdos alternativos, mas também um impulso poético-político que visa a reparação do silenciamento dessas outras cinematografias fazendo com que se insurjam contra seu próprio tempo, interrompendo – por um momento – o cortejo triunfal dos vencedores.

Download do torrent do filme

O que vemos nos filmes “O Ovo da Serpente” e “A Onda”?

maio 13, 2010 1 comentário

Esses dias encontrei um amigo professor que não falava a muito tempo. Por eu estar acabando a faculdade – faço o curso de história – e estar um pouco (mentira é muito) preocupado com minha situação trabalhista após o termino do curso, conversamos sobre sua profissão.

Ele me contou que está dando aulas em um colégio particular – que por sinal é muito caro – e acabou me revelando um pouco de sua angustia. Disse-me ele:

“A classe média alta, por possuírem acesso fácil às informações, estão saturados de tudo…Parece que, paradoxalmente, apesar de terem tudo estão vazios”.

            Na mesma hora me veio à cabeça dois filmes: “O Ovo da Serpente” de Igmar Bergman e “A Onda” de Dennis Gansel.

Pensei…

            Apesar da generalização de meu amigo, a fala dele mostra uma situação um tanto interessante de ser avaliada.

Bergman em seu filme nos mostra uma Alemanha totalmente destruída após sua derrota na primeira grande guerra. As personagens que são construídas ao longo da narrativa nos revelam a explosão de sentimentos que alemães realmente experenciaram. As crises econômicas, emocionais e existenciais devastaram com o corpo e o espírito de homens e mulheres fazendo emergir sentimentos de medo, angustia e desespero entre todos. O que estava em jogo nesta época era a falta de tudo, a privação de nossa vocação, a de sermos humanos, para tanto o que as personagens se tornaram foi nada. Esta situação gerou um nível de instabilidade tamanha que favoreceu a instauração do regime nazista. O nazismo entra para o poder político não como uma ideologia que aliena o povo, mas uma ideologia que se aproveitou da fragilidade do povo rogando-lhe promessas de tempos melhores e novas possibilidades, não é à toa que Hitler é eleito democraticamente em 1933.

Já o filme “A Onda” nos coloca numa situação totalmente diferente. Mostra-nos adolescentes de um colégio da Alemanha que, aparentemente, não nos faz sentir a falta, mas o excesso. Estes jovens não estão passando por necessidades, não estão passando fome e nenhuma espécie de privação, mas algo é estranho. Até parece que o ter se perde no ser. Ter isso ou aquilo é ser isso ou aquilo. A estética aqui se revela como identidade, portanto ora podem ser/ter anarquistas ora podem ter/ser fascistas. O ter tudo, como é o caso desses adolescentes, é a condição de ser e como se tem tudo acaba-se não sendo nada. Se tudo temos e nada somos o que se gera, pelo menos no filme, é um amortecimento dos sentimentos, e se nada se sente nasce os comportamos mais diversos como a indiferença, o individualismo, a desunião, etc. tal situação é terreno fértil para florescer as práticas fascistas.

Depois de pensar sobre tudo isso podemos verificar duas diferenças fundamentais. No primeiro filme verificamos que as personagens não têm, não possuem, a possibilidade de serem, visto que ser é a busca por humanizar-se. No segundo caso o ter funda o que se é, funda o nosso ser, porem esse ser está subordinado a um ter no sentido material. Em ambos os filmes as personagens acabam sendo e tendo uma mesma situação, o Vazio. Este vazio é aproveitado no despertar dos valores fascista que já possuímos.

Um momento…vocês devem estar se perguntando: “Mas como assim, eu não tenho valores fascista. Fale por você mesmo. Quem é fascista é você”. Bem, falando por mim digo que valores fascistas são nos passado todos os dias e todas as horas, se tornou algo como Deus, onipresente. Como? Olhe para o seu dia-a-dia, o que você vê? Eu vejo o Serra sendo presidente, eu vejo índios do Mato Grosso do Sul sendo expulsos de suas próprias terras, eu vejo gregos sendo reprimidos porque não quererem as políticas econômicas neoliberais, vejo pais matarem filhos, vejo filhos matarem pais, vejo a arrogância de professores, vejo 2014 chegando com a Copa do Mundo e a higienização comendo solta…isso o que vejo, fora o que não vejo.

Mas vocês podem estar se perguntando: Onde você vê tudo isso? Vejo em mim, vejo em você, vejo no trabalho, vejo na escola, vejo nos grandes meios de comunicação, vejo na família vejo tudo isso sem contar com a policia.

Para quem assistiu o filme “A Onda”, na ultima cena o professor, mergulhado em seus pensamentos refletindo tudo aquilo que ocorreu, olha para a câmera e nós vê assim como Ângelus Novus vê o passado. E sabe o que eles estão vendo? Uma tempestade que se aproxima. Essa tempestade teve e têm vários nomes, na época de Walter Benjamin era chamada de progresso, hoje pode ser chamada de desenvolvimento sustentável, pré-sal e outros, e ambos continuam a nos encarar, e agora…O que você vê?

Revisitanto o Passado para Reescrever a Ditadura Militar no Brasil

março 3, 2010 Deixe um comentário

Diante de tantas propagandas divulgadas em emails, sites e blogs sobre as eleições à presidencia da Republica nos deparamos com ataques feitos de forma ostenciva a figura da candidata Dilma Rousseff, e de sua atuação na época da Ditadura Militar, categorizando-a como terrorista. Para tanto, neste breve ensaio resolvi saquear a história e reescrever o passado resgatando o entendimento que temos sobre o terrorismo e suas práticas, porem não sendo uma defesa de tal prática e muito menos uma justificativa às ações de Dilma,  mas simplesmente mais um ponto de vista a cerca do Terror, visto que meu ponto de vista, assim como de Paulo Freire, é o ponto de vista dos oprimidos. LEIA MAIS

O Outro lado da rua

fevereiro 26, 2010 Deixe um comentário
Estava eu caminhando pelas ruas de SP em direção ao trabalho e, como de costume, percorrendo o mesmo trajeto que faço diariamente. Foi ai então que me permiti a pergunta, “por que será que faço o mesmo caminho sempre?”, e como numa fração de milésimos de segundos a resposta logo veio, “porque esse é o caminho mais curto para se chegar ao trabalho”. Que saco.
Diante de tal perplexidade determinista continuei a caminhada com as mesmas passadas de perna e com a mesma visão da rua. Foi quando neste exato momento que me ocorreu uma Outra indagação, “será que se eu for para o Outro lado da rua, na calçada do Outro lado, terei um Outro dia?”… LEIA MAIS

Policiais Fantasmas de cérebros-espíritos coloridos

fevereiro 10, 2010 Deixe um comentário

Diante do Espetáculo das enchentes e das constantes insatisfações que pairam a atual gestão de Gilberto Kassab, como o aumento da passagem de ônibus, por exemplo, onde  os habitantes da cidade de São Paulo organizam-se e vão as ruas protestar, manifestando assim suas indignações.
Porem sabe-se qual é o pilar que esta ancorada a cultura policial: A truculência. Diante, então, de tais protestos diversas manifestações foram fortemente reprimidas.
No blog Apocalipse Motorizado o autor nos relata a forma pela qual o policia trata os movimentos sociais desde o governo de FHC até os dias atuais, sendo estes últimos nada mais do que meras extensões de uma mesma política. LEIA MAIS…

Do Cabaré ao Lar

janeiro 24, 2010 Deixe um comentário

Do cabaré ao lar” é título do livro da historiadora-anarquista, ou anarquista-historiadora, Margareth Rago. Mesmo que os dois autores sigam caminhos diferentes na analise do operariado a autora mescla as perspectivas de Michel Foucault e Edward P.Thompson neste livro o tornando indispensável para aqueles que desejam estudar a cultura operária e as formas de disciplinarização almejadas por patrões, médicos, psiquiatras e Estado que compreenderam o início do século XX no Brasil, período de 1890 a 1930.

A autora irá fazer uma analise detalhada dos discursos de diversas autoridades como médicos, engenheiros, sanitaristas, higienistas e afins que visavam o “bem estar” do operariado no que concernia a situação nas fábricas, tratamentos com as mulheres, o caso do trabalho infantil e a moradia do operariado. LEIA MAIS AQUI

O Real para Além da Verdade

janeiro 22, 2010 Deixe um comentário

Assim como o historiador Koselleck (1992) ressalta, as palavras, ao longo dos anos, passam a ter outros significados dependendo do momento histórico de que uma dada sociedade ou cultura vive, portando os conceitos, do qual não são meras palavras, mas um aglomerado de “atitudes semânticas”, também se transfiguram, sendo assim se re-significam.

Rastreando a trilha deixada por AltDelCtrl no texto “O real para além do rei” vale a pena desferir mais uma punhalada à noção de “realidade” da qual coloca – aqui trato “realidade” como um conceito, portanto que possui um reflexo prático na vida das pessoas…LEIA MAIS NESTE OU NESTE ESPAÇO

Uma interpretação do filme “Corra Lola, corra”

janeiro 21, 2010 Deixe um comentário

O filme “Corra Lola, corra” nos possibilita pensar em diversas possibilidades acerca da perspectiva do entendimento de história a partir da interface fílmica, pois se encararmos que a história é – enquanto ciência disciplinar de origem ocidental – uma concepção de tempo que nos é, muitas vezes, imposta por uma forma de racionalidade onde esconde outras possíveis alternativas de entendimento temporal, a temporalidade que o filme nos mostra ao longo de seu percurso nos faz refletir sobre o passado, o presente e o futuro. LEIA MAIS…

Ócioculturalização Radical

janeiro 16, 2010 Deixe um comentário

Este blog é, e está, sendo constantemente (re)pensado de acordo com as minhas necessidades de expressão tanto no que tange meus devaneios artísticos quanto intelectualoides.

Isso sempre com o carater de não haver nenhum compromisso por parte colaborativa a nenhum meio de comunicação institucional que visa estabelecer relações das quais são guias do status quo vigente, portanto me direciono a uma ócioculturalização radical de minha produção de conhecimento, pois ao passo que efetuo meus devaneios e indagações a cerca do que vejo, sinto e leio sem fins lucrativos e muito menos fins promocionais, ao meu ver, proporciono uma experência de prazer ao meu “ser” que não se vincula a nehuma questão de extração de mais valia.

Trarei então aspectos das artes – filmicas, literárias e etc – e conhecimentos diversos – história, filosofia, ciências sociais, etc – para a arena do debate sem a pretenção de que minhas colocações estarem fechadas em si mesmas e que não possam dialogar com nenhuma outra que queria “se meter” (e por favor, se metam).

Enfim, este blog esta mais para um desabafo das sensações e indagações presentes do que propriamente um projeto para o futuro, mas nunca sabemos onde isso pode dar…